segunda-feira, 25 de maio de 2009

AZIA E MAU PERDER

Vou lendo e ouvindo os que durante meses, anos mesmo, deram por adquirido que o PS ganharia as eleições, todas as eleições deste ano, com uma perna às costas. A única concessão que admitiam era a grandeza da maioria, se relativa, se absoluta.
O PS criou as condições necessárias para concretizar esse objectivo eleitoral. Tinha uma maioria sólida na Assembleia da República, atenta e vigilante às ousadias deste ou daquele deputado mais rebelde, como ficou claro no acompanhamento do caso Alegre. Tinha o acordo do grande capital, como as recentes declarações do tio Belmiro evidenciaram. E na Presidência da República tinha um aliado, alguém que partilha dos mesmos ou idênticos valores e projectos capitalistas.
Subavaliou o PCP que não se deixou envolver, que recusou alinhar nos temas fracturantes que outros agarram e protagonizam, concentrando as suas energias, capacidades e experiências de vida nas lutas, primeiro pequenas, depois maiores, com que ofereceu resistência à fúria de restauração de privilégios de classe e às teses da inevitabilidade, que até na assembleia municipal de Guimarães foram defendidas como coisa boa.
Agora, quando a realidade tende a desmentir as teorias, as estratégias, os cenários construídos pelos laboratórios políticos e difundidos acriticamente pelos "jornalistas e comentadores amigos" repartidos "por acaso" pelos jornais, rádios e tvs, estala o verniz e começam a falar no pós-eleições, acusando o PCP, antecipadamente e sem o mais leve indício, de estar a abrir a porta ao PSD e à direita.
A contragosto confessam várias coisas: que o morto não está morto, está vivo, recomenda-se e é de facto a única força política com propostas e estratégias opostas às de direita; e que a aposta no BE não é suficiente para neutralizar a forte identificação do PCP com o povo que trabalha ou trabalhou.
Confessam que a promoção do BE não dá os resultados esperados, mas não confessam o que mais lhes custa: que este PCP está vivo e enraizado na sociedade não domesticada, nas classes que sofrem os desmandos e desvarios do capitalismo na sua versão neoliberal ou da terceira via do socialista Tony Blair.
O PCP luta e resiste para que as políticas de direita não passem nem vinguem. Sejam elas lideradas pelo PS, pelo PSD ou por ambos. Aos que se apressam a responsabilizar o PCP por eventual vitória do PSD, é justo perguntar o que têm feito, dito ou escrito contra as políticas de direita praticadas pelo PS, que em boa verdade justificam sempre, indiferentes ao sofrimento e aos protestos das vítimas. São esses em primeira linha os responsáveis por a pequena e média burguesia fugir do PS e se refugiar no PSD, cujas reais diferenças não valorizam. Quando o consumidor não distingue facilmente dois produtos similares, compra indiferentemente ora um ora outro.
Nós trabalhamos para que chegue o dia em que os insubmissos, os que não se conformam, saibam distinguir o trigo do joio e o PCP seja reconhecido eleitoralmente como merece. Por mim, não é igual um governo socialista ou um governo social-democrata. Mas também me é indiferente se a política de direita é protagonizado por um ou por outro. Estarei na trincheira de luta por uma política de esquerda. Antes das eleições e depois das eleições.

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