terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UNIÃO NACIONAL EM TEMPO DE CRISE

Gostava de ter escrito isto, mas quem o fez e muito melhor do que eu faria foi o Incursões:
A unidade, a união sagrada e os seus adeptos
O dr Mário Soares resolveu fazer um apelo. Um apelo à unidade. Diz o excelente senhor que numa situação destas (presume-se que se refere à economia, apesar da calma olímpica de vários responsáveis governamentais) não se deve andar em “guerrilhas” políticas. Deve haver unidade. À volta do Governo, presume-se.
Parece que o dr Soares entende que a política deve ir para férias por uns tempos. E a democracia provavelmente também. Como se a crise fosse outra coisa que não política. Como se a economia fosse algo que é independente da política.
O dr Mário Soares não é como o vinho do porto. Envelhece mal. Então descobriu agora que o apelo à unidade, usado por tudo o que foi regime fascista, é o ideal para combater a crise. Esquece que durante os muitos anos em que andou na oposição, o governo da altura o criticava por ele andar em guerrilhas esquecendo que o país estava a braços com uma, duas ou três guerras na África.
O apelo à unidade, feito desta maneira, diz tudo, infelizmente, do pensamento cadaveroso de alguma elite política portuguesa. Claro que o dr. Soares tem uma desculpa. Do outro lado está Manuel Alegre. E ele, Soares, que jura não falar disso, só fala disso, mesmo quando silencia. Não engoliu a derrota eleitoral.Também fez umas declarações curiosas sobre coragem política. Poderia, mesmo tardiamente, atribuir à drª Ferreira Leite a mesma coragem que hoje reconhece numa sua sucessora.
Porque Ferreira Leite tinha na altura a mesmíssima razão que a sucessora hoje tem. Mas provavelmente o dr Soares acha que a tempos diferentes (mesmo que próximos) deverão corresponder apreciações diferentes.E tem razão: votei nele duas vezes e fiz mesmo parte do núcleo duro dos seus primeiros e escassos apoiantes. Depois preferi Alegre. E senti-me bem. Muito bem. Mas continuei a ter ternura e respeito pelo “velho senhor”. Custa-me vê-lo a dizer o mesmo que os mais alucinados apoiantes de Salazar. Quando se tem uma biografia há que respeitá-la, como disse um dirigente bolchevique que instado a confessar “crimes anti-partido” num processo de Moscovo para salvar a vida, preferiu não o fazer. Foi condenado e executado. E ainda hoje é recordado. E respeitado.

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