segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CÓDIGO DO TRABALHO

Tenho para mim que a reforma do Código do Trabalho da dupla Vieira da Silva/José Sócrates é uma peça fundamental na estratégia socialista da aplicação do neoliberalismo às relações laborais.
Foi por isso que recebi com indisfarçável alegria o chumbo do Tribunal Constitucional à proposta nele contida de permitir que um trabalhador indiferenciado pudesse ser contratado a título experimental por seis meses, período durante o qual a insegurança e a incerteza fariam parte da sua vida, afectando-a negativamente.
Acresce que os senhores juízes decidiram por unanimidade, o que revela bem a evidência de uma inconstitucionalidade denunciada antes mais ninguém pelo PCP e que só os socialistas populares e modernos recusaram ver. Bem feita.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UNIÃO NACIONAL EM TEMPO DE CRISE

Gostava de ter escrito isto, mas quem o fez e muito melhor do que eu faria foi o Incursões:
A unidade, a união sagrada e os seus adeptos
O dr Mário Soares resolveu fazer um apelo. Um apelo à unidade. Diz o excelente senhor que numa situação destas (presume-se que se refere à economia, apesar da calma olímpica de vários responsáveis governamentais) não se deve andar em “guerrilhas” políticas. Deve haver unidade. À volta do Governo, presume-se.
Parece que o dr Soares entende que a política deve ir para férias por uns tempos. E a democracia provavelmente também. Como se a crise fosse outra coisa que não política. Como se a economia fosse algo que é independente da política.
O dr Mário Soares não é como o vinho do porto. Envelhece mal. Então descobriu agora que o apelo à unidade, usado por tudo o que foi regime fascista, é o ideal para combater a crise. Esquece que durante os muitos anos em que andou na oposição, o governo da altura o criticava por ele andar em guerrilhas esquecendo que o país estava a braços com uma, duas ou três guerras na África.
O apelo à unidade, feito desta maneira, diz tudo, infelizmente, do pensamento cadaveroso de alguma elite política portuguesa. Claro que o dr. Soares tem uma desculpa. Do outro lado está Manuel Alegre. E ele, Soares, que jura não falar disso, só fala disso, mesmo quando silencia. Não engoliu a derrota eleitoral.Também fez umas declarações curiosas sobre coragem política. Poderia, mesmo tardiamente, atribuir à drª Ferreira Leite a mesma coragem que hoje reconhece numa sua sucessora.
Porque Ferreira Leite tinha na altura a mesmíssima razão que a sucessora hoje tem. Mas provavelmente o dr Soares acha que a tempos diferentes (mesmo que próximos) deverão corresponder apreciações diferentes.E tem razão: votei nele duas vezes e fiz mesmo parte do núcleo duro dos seus primeiros e escassos apoiantes. Depois preferi Alegre. E senti-me bem. Muito bem. Mas continuei a ter ternura e respeito pelo “velho senhor”. Custa-me vê-lo a dizer o mesmo que os mais alucinados apoiantes de Salazar. Quando se tem uma biografia há que respeitá-la, como disse um dirigente bolchevique que instado a confessar “crimes anti-partido” num processo de Moscovo para salvar a vida, preferiu não o fazer. Foi condenado e executado. E ainda hoje é recordado. E respeitado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

DISCURSO DO AVESSO

2009 vai ser um ano muito difícil.
À medida que os dias vão passando vai crescer a percepção de que a crise financeira e económica é mais profunda, intensa e duradoura do que à primeira vista parecia. Pior, cada dia que passa cresce a noção de que a crise anda em roda livre e não há meios nem mecanismos para a controlar. Nem à escala de cada país, nem à escala internacional.
Tal como há níveis diferentes de desenvolvimento entre os países, também as crises nacionais assumirão graus e características distintas, sendo mais graves e de consequências mais devastadoras nuns do que noutros. E também é justo dizer que há países que, por não estarem completamente integrados na etapa do capitalismo financeiro, estão a aguentar o embate melhor do que os países completamente submetidos a essa mesma lógica. Na África, na Ásia, na América do Sul e na Oceania.
A situação tornar-se-à ainda mais explosiva à medida que o desemprego disparar e os desempregados se aperceberem que encontrar novo emprego vai ser difícil.
Se a estes dois factores se somar a falência da segurança social, por perda de contribuições e por aumento dos subsídios, e a ruptura do pagamento de pensões de reforma indexadas a fundos e afins, então os países que hipotecaram as suas economias à lógica saída de Bretton Woods, em especial a Europa e Portugal, podem conhecer convulsões sociais de magnitude impossível de avaliar.
Urge fazer o trabalho de casa, prevendo soluções para os cenários mais pessimistas e falar verdade para que cada português se prepare para o pior e não seja apanhado desprevenido. Exactamente o oposto do discurso oficial.